quarta-feira, 26 de novembro de 2008

O estado actual do futebol português de clubes

Artigo de opinião
FC PORTO
As recentes vitórias do FC Porto, não só no campeonato e na taça, mas principalmente na Liga dos Campeões trazem à tona factos incontornáveis e indesmentíveis. A vitória categórica mas previsível de ontem na Turquia e consequente qualificação provam mais uma vez que o FC Porto é desde há anos a esta parte a única equipa portuguesa com estatuto europeu, com um estofo de campeão capaz de ombrear, mesmo em fases de menor brilhantismo, com os colossos europeus. Grande eco se fez na imprensa acerca da qualificação do Sporting, a primeira da sua história, relativamente ao FC Porto, não há ecos, há apenas a aceitação de algo natural.
Na verdade, muita azia deve nesta altura circular pelos corredores da Uefa, principalmente no Sr. Platini, bem como da Luz e de Guimarães, proclamados carrascos dos campeões nacionais nos gabinetes burocráticos do futebol, no início da época. De Platini nunca mais se ouviu falar, a não ser devido à sua intransigência em discutir a introdução de meios tecnológicos na arbitragem. Quanto ao Benfica e ao Guimarães... uns arrastam-se pela Liga, tendo caído nas provas europeias, outros estão em grande a nível nacional - diga-se em boa verdade -, mas na Europa é o que se vê.
Relativamente à imprensa desportiva portuguesa: é tendenciosa, parcial e funciona por lobbies e compadrios. Muitos foram os jornais e canais televisivos que fizeram antecipadamente o funeral ao FC Porto. As manchetes da Bola e os comentários dos jornalistas de serviço nos jogos da TVI têm sido ridículas(os). Em dias em que o FC Porto joga cartadas decisivas na Europa ou se realizam clássicos na Taça de Portugal (Sporting-FC Porto), as manchetes do jornal lisboeta vão para os treinos do SLB. Até o Leixões se vê colado ao grande emblema de Lisboa devido à cor do seu equipamento: Vermelhão. Vermelha devia ser a cor da face desses senhores porque a isenção de análise e a ausência de clubites devia ser um princípio básico na sua profissão.
Os factos anteriores não invalidam de forma alguma os erros cometidos pelos responsáveis do clube na construção do plantel e na gerência da própria imagem do clube. Falhas ao nível do casting da equipa são flagrantes. A principal, a meu ver, é o problema de como substituir um jogador como Quaresma. Resposta: como em anos anteriores, contratando um brasileiro-promessa como foram os casos bem-sucedidos de Carlos Alberto e principalmente de Anderson. O FC Porto precisa de fantasia na equipa e C. Rodriguez está longe de lha poder dar. Mercado de Inverno pode trazer solução.
SPORTING
Em primeiro lugar, há que parabenizar o grande clube lisboeta pela inédita passagem aos oitavos de final da Liga dos Campeões. Apesar de ter ficado num grupo claramente desiquilibrado, onde só o Barcelona é opositor, a proeza dos leões é digna de registo.
Falando do Sporting no contexto do futebol nacional desta época: lamentável. Para um clube que sempre quis primar pelo fair-play, sempre se impôs ou quis impor de forma altiva e muitas vezes arrogante e vaidosa na luta pela verdade desportiva, vir agora usar uma estratégia sórdida de pressão sobre a débil classe da arbitragem é enorme contra-senso e política de ruptura com os princípios que pareciam ser bandeira do clube.
O comportamento de Paulo Bento - autêntico batedor da dita estratégia - roça o ridículo, não só pela inflexão abordada, mas principalmente porque se funda em factos aparentemente ficcionais e ficcionados. Bento fala de erros de arbitragem que prejudicam o Sporting, mas ninguém ainda os viu, ou se os viu, como foi o caso do jogo da Taça com o FC Porto, viu o dobro dos casos que beneficiaram a equipa leonina. Na verdade, para quem viu com isenção esse e outros jogos do Sporting, não se percebe como é que após os ditos jogos (também com a Naval), é dado direito de antena às declarações mirabolantes de Paulo Bento, não só a falar de "nojo", "fim de carreira" e "incompetência", como também até - pasme-se!- a sugerir aos seus adeptos violência contra os árbitros que vão a Alvalade.
Este facto tem provocado mudanças de cultura no universo leonino, mudanças essas que afectam, além da massa associativa - ainda dividida e claramente desorientada - os comentadores televisivos ligados ao clube. Na SIC, Dias Ferreira perdeu completamente o bom senso, virando-se contra tudo e contra todos, disparando em todas as direcções e alinhando em princípios agressivos nada condizentes com o tal fair-play que era apanágio dos sportinguistas. Rui Oliveira e Costa, na RTPN, já não consegue analisar situações de jogo em que o Sporting é claramente beneficiado e ainda ontem destacava e aplaudia com nítido e patético orgulho a estratégia, nas suas palavras "Pedrotiana", de pressão sobre a arbitragem. O exemplo mais faccioso e ridículo surge na análise às sucessivas expulsões de Derlei, por actos descarados de violência. Na óptica do dito comentador, o brasileiro (que até já jogou com Petit no Benfica) vem com a cultura do FC Porto. Claro, tinha que ser, afinal esta estratégia do Sporting até é culpa do Pedroto. Falta dizer que o Pinto Da Costa paga ao Paulo Bento para se virar contra os árbitros. Sinal dos tempos.
A imprensa, essa, preferia e prefere condenar o FC Porto dos tempos áureos de Pinto Da Costa, não procedendo de igual modo agora que estamos nos tempos áureos de Paulo Bento.
E os portistas vão-se rindo destas coisas. E com razão. Afinal defendem um clube coerente e com estatuto europeu.
BENFICA
O plantel às ordens de Quique Flores é o melhor dos últimos 15 anos, pelo que o Benfica tem este ano uma oportunidade de ouro para voltar a vencer o campeonato. O investimento foi avultado, nasceu o canal oficial do clube, o FC porto parece em fase de transição e por isso mais fraco, o Sporting vive momento de mudança estratégica e de imagem. Todos estes factores podem contribuir para o sucesso dos encarnados, mas não podemos esquecer o factor talvez mais determinante: Luís Filipe Vieira está calado.
Está calado, e isso é perigoso para portistas e sportinguistas. Senão vejamos: das duas vezes que Vieira apareceu a cantar as suas habituais cantilenas, a primeira foi no início da época, quando atacou o FC Porto por causa da presença na Champions; a segunda foi há uns 15 dias, aquando da vitória em Guimarães. E o que sucedeu logo a seguir? - O mesmo que tem sucedido nos últimos anos de cantorias de LFV e de consequentes derrotas desportivas e não só do Benfica. O que aconteceu foi que o Benfica não foi à Liga dos Campeões e, após o jogo de Guimarães, a equipa perdeu em casa na Uefa com os turcos.
Este silêncio de Vieira prolonga-se no tempo e parece-me que demonstra alguma evolução do presidente benfiquista. Aprendeu com os erros e agora só volta a falar quando o Benfica estiver a jogar bem (o que ainda não aconteceu).
De resto, a história do costume: proteccionismo escandaloso da imprensa; condescendência da arbitragem (o que dizer da atitude de Pedro Proença relativamente a Bynia antes do jogo de Coimbra?? - ridículo e grave); opinião pública fabricada pela dita imprensa. Passámos do lápis azul ao lápis encarnado que vai escrevendo e riscando pelo tempo fora.
É este o futebol que temos.
(Rodriguez)

Sem comentários: