Opinião
O clássico de sábado entre o FC Porto e o Sporting permite tirar algumas conclusões relativamente à luta pelo título desta época. Jogo fraco, constitui não apenas o espelho do que tem sido esta Liga, mas também da pobreza do futebol português, esta que por sua vez não resulta somente da qualidade dos jogadores que a compõem, mas vários factores até de índole psicológica e conjuntural que não deixam de ser normais num país como aquele em que vivemos.
Repare-se na campanha imaculada do FC Porto na Liga dos Campeões. Na verdade, todos os críticos e pseudo-intelectuais da bola - com destaque para esse "monumento" da intelectualidade futebolística nacional que é Rui Santos - são unânimes em criticar a bola indígena, quando comparada com a inglesa, italiana, espanhola, etc. Esquecem-se esses doutos que estamos num país cujo PIB nada tem a ver com esses outros.
Se conseguirmos ser pragmáticos e rigorosos na análise teremos que chegar à conclusão que o futebol português até vai fazendo alguns milagres lá fora, ou não fossem o melhor jogador e o melhor treinador do mundo portugueses; ou não tivesse sido o FC Porto há bem pouco tempo campeão europeu e mundial; ou não continuasse a ser o campeão nacional um exemplo de sucesso na Europa, ele que não faz uma Champions sem atingir pelo menos os oitavos de final; entre outros exemplos materializados já esta época pelo Braga ou até pelo Sporting (aqui, termos que subtrair o último jogo contra o Bayern obviamente).
Em boa verdade, estamos ao nível que podemos estar, talvez até um pouco acima das nossas reais potencialidades. Fala-se como termo de comparação de outros campeonatos, como o inglês ou o italiano, mas comparar o campeonato português com o inglês, só mesmo na "cabecinha pensadora" do Rui Santos, ou por muita má fé ou utopia, porque os nossos aliados de sempre são uma potência económica e cultural mundial, onde o dinheiro está em quantidade a milhas dos cofres deste país.
Voltemos ao clássico. O Sporting, já o disse aqui, tornou-se gradualmente num clube de formação, para quem importa mais criar o melhor jogador do mundo, mesmo que seja para ir dar títulos aos tubarões, do que ganhar. Paulo Bento já percebeu esse factor incontornável e faz o que pode, com a agravante de cometer também ele, erros de palmatória.
Os leões tiveram no sábado uma oportunidade de ouro para ganhar no Dragão e apertar a luta pelo título de forma definitiva, mas apresentou-se calculista ao limite, jogando para não perder, acima de tudo, como aliás nos vem habituando estratégia de Bento. Os 0-5 da Champions, cujos efeitos - a fazer fé nas reacções de quase normalidade de técnicos e responsáveis - parecem não ter sido alarmantes para os lados de Alvalade. Paralelamente, tal resultado deu uma desculpa ao Sporting para não se expor em demasia no Dragão, de forma a não voltar a ser humilhado e os resultados estão à vista: o Sporting só por muita sorte conseguirá chegar ao título esta época.
O FC Porto mostra nesta altura uma previsibilidade incomodativa e mesmo irritante para os seus adeptos. De facto, uma equipa que já prometeu e até calou aqueles que a achavam mais fraca do que em anos anteriores, tinha tudo para dar xeque-mate aos seus adversários nas últimas três jornadas. Falhou com o Benfica de forma clamorosa, voltou a falhar com o Sporting.
Numa equipa onde a falta de Quaresma foi muito bem suprimida - em termos de influência no jogo colectivo da equipa - por esse fenómeno que é Hulk, notam-se alguns desiquilíbrios relativamente ao ano passado essencialmente porque os laterais estão longe da qualidade de Bosingwa e até, pasme-se, de Marek Cech. Também no miolo se nota claramente o défice de Fernando relativamente a Paulo Assunção. Fernando não consegue para já sair a jogar, perde bolas onde não devia perder e acaba por não dar segurança a Lucho para olhar mais em frente e empurrar a equipa para o ataque.
Creio todavia que o grande problema do FC Porto começa a ser Jesualdo Ferreira. O treinador portista é competente na organização da equipa, na solidez que imprime ao colectivo, mas peca por não ser nada interventivo em termos tácticos. O FC Porto joga num 4x3x3 demasiado previsível, assustadoramente dependente de Lucho, sem alternativas ao argentino e sem planos-B quando o temível tridente atacante se ressente do sub-rendimento de El comandante. Na verdade, com três avançados do nível de Hulk, Lisandro e Rodriguez exigia-se alguém a criar livremente, a municiar o ataque potenciando a velocidade dos três.
Neste contexto, e porque Lucho parece muitas vezes mais preocupado em jogar para o contrato milionário, continuo a não compreender por que razão Ibson ou Luís Aguiar não estão no Dragão, como não entendo porque é que Guarín deixou de ser convocado. De resto, as substituíções do costume e a horas inacreditavelmente tardias (as entradas de Mariano e Fárías praticamente no final do jogo chegam a ser constrangedoras).
Justiça seja feita: o FC Porto é o único clube que continua nas três frentes e esse é o único trunfo de Jesualdo, mas para quem esteve no Dragão e é aficionado dos campeões nacionais, começa a provocar uma irritação acentuada a froma como o FC Porto joga no seu estádio, sem ideias e sem o fogo de outrora.
Quanto ao Benfica, abdico de qualquer comentário mais aprofundado, porque de facto a equipa lisboeta é neste momento a maior incógnita do futebol português. Além disso, vejo os seus responsáveis mais preocupados com o apito dourado e com a qualificação para a Champions na secretaria do que propriamente com o futebol apresentado pelos milionários comandados de Quique. Ficará para mais tarde uma apreciação.
Rodriguez
2 comentários:
grande apreciação, parabéns!
parabéns pela crónica
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